Revista Brasileira de Epidemiologia (Dec 2012)

Homens, masculinidade e violência: estudo em serviços de atenção primária à saúde Men, masculinity and violence: a study in primary health care services

  • Lilia Blima Schraiber,
  • Claudia Renata dos Santos Barros,
  • Márcia Thereza Couto,
  • Wagner Santos Figueiredo,
  • Fernando Pessoa de Albuquerque

Journal volume & issue
Vol. 15, no. 4
pp. 790 – 803

Abstract

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Há poucos estudos sobre homens abordando violência como evento não fatal. Contribuindo nessa direção, descrevem-se as prevalências da violência psicológica, física e/ou sexual sofridas por homens, detalhando-se nestes tipos a perpetrada contra parceiras. Trata-se de estudo transversal realizado com 789 homens de 18 a 60 anos, dos quais 775 com alguma parceria íntima na vida, selecionados por ordem de chegada em dois serviços de atenção primária na cidade de São Paulo. Foram investigadas as características sociodemográficas e as violências mencionadas, examinadas ainda quanto a sobreposições e à percepção de havê-las sofrido ou perpetrado. As prevalências de violências sofridas na vida foram de 79% para qualquer tipo e por qualquer agressor; 63,9%, 52,8% e 6,1% respectivamente para psicológica, física e sexual. Para violências perpetradas contra a parceira na vida, temos 52,1% qualquer tipo e 40%, 31,9% e 3,9%, respectivamente, para violência psicológica, física e sexual. Nas sofridas e nas perpetradas, a psicológica é a de maior taxa exclusiva, seguida da física. Quanto aos agressores, conhecidos é o principal agressor, seguido de familiar, estranhos e parceira íntima. Na relação entre sofrer por suas parceiras e perpetrar, 14,2% dos casos são sobrepostos e 81,2% somente perpetraram. Conclui-se que, embora nas violências relativas às parceiras íntimas os homens sofram muito menos do que perpetrem, os dados mostram que eles se envolvem em muitas situações de violência, de grandes magnitudes e sobreposições, quer como vitimas ou agressores, reiterando estudos sobre masculinidade. Este conjunto complexo de situações também deve ser considerado nos serviços básicos de saúde.There are few studies on men dealing with violence as a non-fatal event. As a contribution, the prevalences of psychological, physical and/or sexual violence suffered by men and the perpetrated intimate partner violence (IPV) are described. This was a cross-sectional study on 789 men aged 18 to 60 years, of whom 775 ever partnered. Men were selected in order of arrival at two primary healthcare clinics in the city of São Paulo. Sociodemographic characteristics and reported violence were investigated, along with the violence overlapping and perceptions of having suffered or perpetrated violence. The lifetime prevalence of suffered violence was 79% for any type and any aggressor; 63.9%, 52.8% and 6.1% respectively for psychological, physical and sexual violence. For lifetime IPV, the rates were 52.1% for any type and 40%, 31.9% and 3.9% respectively for psychological, physical and sexual violence. For both suffered and perpetrated violence, the psychological type had the highest exclusive rate, followed by physical. Acquaintances were the main aggressors, followed by family members, strangers and female intimate partners. Between suffering and perpetrating IPV, 14.2% of the cases overlapped and 81.2% consisted only of perpetrated violence. It was concluded that although in relation to intimate partner violence, men suffered much less than they perpetrated, the data showed that they were involved in many situations of violence of large magnitude and overlapping situations, both as victims and as aggressors, thus echoing studies on masculinity. This complex set of situations should also be taken into consideration in primary healthcare services.

Keywords