Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
PACIENTES QUE DESEJAM SUSPENDER A ANTICOAGULAÇÃO DE TEMPO INDEFINIDO: DESCRIÇÃO DE EXPERIÊNCIA DE SERVIÇO PRIVADO
Abstract
Introdução/objetivos: Vários pacientes em anticoagulação plena por tempo indefinido expressam, por motivos diversos, o desejo de cessar o tratamento. Esta pesquisa buscou avaliar o perfil desses pacientes, os motivos da solicitação e em que situações essa demanda conseguiu ser atendida. Material e métodos: Estudo retrospectivo, observacional e descritivo, realizado a partir da coleta de dados de prontuários eletrônicos de pacientes acompanhados em serviço privado de Hematologia do interior do Estado de São Paulo. Pacientes avaliados, quando apropriado, com os seguintes modelos para auxiliar na decisão de manter ou suspender a anticoagulação ‒ Men and HER-DOO-2 rule; DASH Score; Vienna Score; Continu-8 Score; HAS-BLED. Resultados: De 2015 a 2022, recebemos 16 pacientes em anticoagulação plena por tempo indefinido (indicado por nosso serviço ou por profissionais externos) que, em consulta, vocalizaram o desejo de cessar o tratamento. Todos os pacientes faziam acompanhamento conjunto com, pelo menos, outro especialista além do hematologista. Mediana de idade de 55 anos (extremos de 22 a 76), sendo apenas um do gênero masculino. 14/16 (87,5%) faziam uso de varfarina com acompanhamento de INR, média de uso de 4 anos (extremos de 1 a 8 anos), e 2/16 (12,5%) faziam uso de rivaroxabana com tempo de uso de 1 e 2 anos. As indicações no grupo de varfarina foram – fibrilação atrial permanente valvar ou outra arritmia de alto risco trombótico (7/14 – 50%), síndrome do articorpo antifosfolípide com trombose de repetição (2/14 – 14%), trombose venosa profunda de repetição (3/14 – 21%), trombose de repetição relacionada a terapia renal substitutiva (1/14 – 7%) e síndrome de Budd-Chiari (1/14 – 7%). Um dos pacientes em uso do inibidor direto de Xa iniciou terapêutica após trombose venosa central e o outro por tromboembolismo pulmonar não-provocado, de alto risco, com estadia em unidade de terapia intensiva. Dentre os motivos alegados para o desejo da suspensão estavam – necessidade de exames regulares (14/16 – 87.5%), necessidade de consultas frequentes (6/16 – 37.5%), dificuldade de administração do medicamento (2/16 – 12.5%) e custo (1/16 – 6.25%). A anticoagulação pode ser suspensa, até o momento, em apenas um caso, com anuência de cardiologista e vascular assistente – paciente compunha idosa frágil com fibrilação atrial permanente e 4 pontos no score HAS-BLED. Discussão: Na população deste estudo, pacientes que desejaram cessar a anticoagulação de tempo indefinido eram compostos majoritariamente por pacientes adultas, acompanhados por múltiplos especialistas e em uso de varfarina. O principal motivo alegado foi a necessidade de exames séricos e consultas regulares. Não houve desejo de suspender o medicamento por efeito adverso (seja intolerância gástrica ou até hemorragia) e apenas um paciente apontou o custo como uma questão relevante. Na maioria dos casos, o benefício de manter o tratamento foi julgado como superior ao de suspendê-lo. O baixo número de pacientes incluídos neste estudo retrospectivo utilizando dados de vida real é um fator limitante. Conclusão: Em geral, pacientes que fazem uso de anticoagulação plena e mantém seguimento regular não apresentam desejo de cessar a terapêutica por efeitos adversos inerentes aos medicamentos. A necessidade de adesão e acompanhamento contínuo é vista como o principal fator do desejo de cessar o tratamento.