História (Jun 2015)

Os azulejos da Misericórdia: a imagem documento na história da cultura religiosa luso-brasileira

  • Maria Eurydice de Barros Ribeiro

DOI
https://doi.org/10.1590/1980-436920150001000037
Journal volume & issue
Vol. 34, no. 1
pp. 148 – 162

Abstract

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Os azulejos portugueses em Portugal e no Brasil são considerados quase sempre como objetos da História da Arte. A proposta deste estudo consiste em abordar os azulejos não como objetos de arte, mas como documentos da história da cultura luso-brasileira. O conceito de imagem documento será desenvolvido por meio da análise de um dos ritos mais importantes da história da cultura religiosa ocidental: a procissão. A atenção do estudo recairá, em especial, sobre a Procissão dos Ossos, que se encontra representada nos painéis de azulejos (séc. XVIII) da Igreja da Misericórdia em Salvador. A Procissão dos Ossos, instituída por D. Manoel em 1498, tinha como objetivo a retirada dos ossos dos justiçados, dando-lhes sepultura. Para a missão, o rei designou a Ordem da Misericórdia. O ato régio se estendeu ao Brasil, quando a primeira Casa da Misericórdia foi fundada na cidade do Salvador, em 1549. O painel, datado do século XVIII, representando a cerimônia, divide o espaço da igreja da Misericórdia com outras duas representações: a procissão do Senhor Morto, introduzida no Brasil (também pelos portugueses), e a Procissão do Fogaréu, introduzida pelos espanhóis. Entre a data da realização da primeira Procissão dos Ossos e o assentamento do painel de azulejos existe um espaço de tempo que permite avaliar a heterogeneidade dos tempos da arte, onde os ritmos diferenciados não coincidem, necessariamente, com os tempos da história.

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