Revista Subjetividades (May 2016)

Legitimação do laço homossexual: um acolhimento possível na realidade social da hipermodernidade

  • Marta Rodrigues de Morais Andrade,
  • Ilka Franco Ferrari

Journal volume & issue
Vol. 9, no. 4
pp. 1145 – 1172

Abstract

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O texto envolve tema discutido em todo o mundo ocidental: a reivindicação dos homossexuais masculinos por legitimação de suas parcerias e a constituição familiar a partir da adoção e da procriação assistida. Tais reivindicações modificam laços sociais, provocando mal-estar por tocarem em estruturas simbólicas até então resguardadas, tais como a diferença sexual no casamento e nas figuras parentais e a reprodução sexuada. Apesar disso, observa-se que a sociedade vem acolhendo e dando voz aos homossexuais masculinos, o que não acontecia cerca de meio século atrás, quando esses sujeitos viviam estigmatizados, à margem da sociedade. Discutem-se, aqui, a partir de formalizações psicanalíticas, alguns fatores que possibilitaram tal acolhimento. Freud está presente, mas, a grande ênfase recai no ensino de Lacan e de autores contemporâneos orientados pelo mesmo. Hipermodernidade é o significante que se elege para denominar nossa época, aqui contextualizada. Nela se identifica a realidade social em que o Outro não existe, ou seja, em que se observa o declínio e a pluralização do Nome-do-Pai e de seus ideais consistentes, que norteavam a civilização. O Pai, que na fórmula da sexuação, representa o “Outro Todo” declinou, revelando sua inexistência, seu semblante, sua ficção. Subiu à cena o “Outro nãotodo”, ilimitado e inconsistente, representado pelo lado feminino da fórmula da sexuação. O predomínio do não-todo flexibilizou as morais rígidas e abriu campo para o reconhecimento e a acolhida das diversidades, possibilitando a emergência de reivindicações dos homossexuais masculinos. Identificou-se o discurso e o modo de gozo em que predominam as coordenadas discursivas da ciência e do capitalismo, comandando os sujeitos à caça ao mais de gozar. O imperativo de que todos têm o direito e o dever de serem felizes e gozarem dos recursos que a ciência oferece fez da família um objeto desejado e consumido, contribuindo para a produção das referidas demandas.

Keywords