Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
LINFOMA DIFUSO DE GRANDES CÉLULAS B NO PERÍODO GESTACIONAL
Abstract
Introdução: O linfoma não-Hodgkin (LNH) é uma neoplasia maligna prevalente mundialmente que engloba diversos subtipos, sendo o mais comum o linfoma difuso de grandes células B (LDGCB), que equivale a 25% dos casos de LNH no mundo. É uma patologia com predomínio masculino e que atinge uma média de idade de 64 anos, por isso, é menos frequente na gravidez. Os sintomas inespecíficos e a hesitação em realizar medidas invasivas em gestantes pode atrasar o diagnóstico e o tratamento. Relato de caso: Mulher de 26 anos com quadro de astenia progressiva há 06 meses, limitando deambulação, realizou hemograma que revelou anemia severa. Encaminhada ao hospital para transfusão e internação, onde apresentou hemorragia digestiva alta com necessidade de cirurgia de emergência (gastrectomia parcial e biópsia). Finalmente, após estabilização do quadro, foi de alta e teve resultado compatível com LDGCB com indicação de quimioterapia (QT), mas negou por questões estéticas. Após 7 meses, estava gestante e procurou emergência obstétrica por dor abdominal intensa, onde foi constatado feto vivo e massa abdominal de aproximadamente 20 cm de diâmetro. Em discussão conjunta com Hematologia e Obstetrícia, decidiu-se por iniciar QT com rituximabe, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona (R-CHOP) e programar parto cesáreo para 32 semanas. Paciente e filha foram de alta com seguimento ambulatorial para conclusão de ciclos de quimioterapia e radioterapia. Uma semana após término da QT, apresentou febre, dor e aumento do volume abdominal, sendo iniciado suporte clínico e reestadiamento. Devido à recidiva tumoral, foi indicado realização de esquema de resgate com rituximabe, ifosfamida, carboplatina e etoposide (R-ICE) ao qual a paciente se opôs por preferir abordagem cirúrgica. Porém, evoluiu com síndrome da lise tumoral e óbito. Discussão: Clinicamente, o LDGCB apresenta-se como uma massa sintomática de crescimento rápido, normalmente cervical ou abdominal, além de linfonodomegalia, sintomas B e aumento de LDH. O sítio primário extranodal mais comum é o trato gastrointestinal. O curso da doença é mais estável durante a gravidez e progride rapidamente após o parto. O diagnóstico baseia-se na realização de biópsia excisional de um linfonodo ou de outros sítios afetados. Geralmente, o principal esquema terapêutico consiste no R-CHOP. Nas gestantes, o tratamento varia conforme o período gestacional. No 1°trimestre, deve-se considerar a resolução da gravidez, tendo em vista os altos riscos de teratogenicidade dos quimioterápicos e de progressão da doença em caso de adiamento do tratamento. No 2°trimestre, considera-se o risco-benefício do início do tratamento, já que os efeitos teratogênicos nesse período ainda são incertos. No 3°trimestre, pode-se optar por induzir o parto e adiar o tratamento para o pós-parto ou iniciar o tratamento definitivo durante a gestação. Após o tratamento, cerca de 1/3 dos pacientes apresentam recidiva e 10% dos casos são refratários à terapêutica inicial. Conclusão: A abordagem do LDGCB em gestantes ainda é um grande desafio, tendo em vista os limitados estudos nesse grupo e os potenciais efeitos teratogênicos do tratamento. Diante disso, o manejo desta patologia deve ser executada conforme o período gestacional e a decisão conjunta entre gestante, obstetra e oncologista, avaliando o risco-benefício para o binômio materno-fetal.