Revista Portuguesa de Cardiologia (Oct 2018)

Será a implantação de desfibrilhador menos útil nos doentes com cardiopatia não isquémica?

  • Rita Marinheiro,
  • Leonor Parreira,
  • Pedro Amador,
  • Catarina Sá,
  • Tatiana Duarte,
  • Marta Fonseca,
  • José Farinha,
  • Cláudia Lopes,
  • Rui Caria

Journal volume & issue
Vol. 37, no. 10
pp. 835 – 841

Abstract

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Resumo: Introdução e objetivo: O benefício do desfibrilhador implantável está bem demonstrado nos doentes com cardiopatia isquémica. No entanto, a evidência deste benefício é menos robusta em doentes com cardiopatia não isquémica. Pretendeu‐se determinar se os doentes com cardiopatia não isquémica apresentavam a mesma incidência de choque apropriado e mortalidade total, comparativamente àqueles com cardiopatia isquémica. Métodos: Estudo retrospetivo, em que foram analisados todos os doentes com cardioversor‐desfibrilhador implantável ou terapia de ressincronização cardíaca com desfibrilhador, implantados para prevenção primária, entre 2004 a 2014, num único centro. A população foi dividida em dois grupos: doentes com cardiopatia isquémica e doentes com cardiopatia não isquémica. O endpoint primário combinado foi choque apropriado e morte por qualquer causa. Resultados: Foram estudados 281 doentes, dos quais 187 (66%) apresentavam cardiopatia isquémica. Os doentes com cardiopatia isquémica eram mais velhos, mais frequentemente do género masculino e com maior prevalência de fatores de risco cardiovasculares. O follow‐up médio foi de 55±42 meses. Trinta e quatro doentes (18%) com cardiopatia isquémica e 20 doentes (21%) com cardiopatia não isquémica tiveram um choque apropriado (p=0,64). Oitenta e nove doentes (47%) com cardiopatia isquémica e 36 (38%) com cardiopatia não isquémica morreram durante o follow‐up (p=0,19). A curva de Kaplan‐Meier demonstra que a probabilidade de choque ou morte ao longo do tempo é semelhante nos dois grupos (logrank, p=0.14). Conclusão: Na população estudada, não existiram diferenças na probabilidade de choque apropriado ou na mortalidade total nos doentes com cardiopatia não isquémica comparativamente aqueles com cardiopatia isquémica. Abstract: Introduction and Objective: The benefits of implanted defibrillators in patients with ischemic heart disease (IHD) are well known. However, the evidence is less robust in patients with non‐ischemic heart disease (non‐IHD). We aimed to determine whether patients with non‐IHD have a similar incidence of appropriate shocks and all‐cause mortality compared to those with IHD. Methods: In a retrospective single‐center study we analyzed all patients with implantable cardioverter‐defibrillators or cardiac resynchronization therapy‐defibrillators implanted for primary prevention between 2004 and 2014. The population was divided into two groups: patients with IHD and patients with non‐IHD. The composite endpoint was appropriate shock and all‐cause mortality. Results: Two hundred and eighty‐one patients were studied, of whom 187 (66%) had IHD. Patients with IHD were older, more frequently male and with more cardiovascular risk factors. Mean follow‐up was 55±42 months. Thirty‐four patients (18%) with IHD and 20 patients (21%) with non‐IHD had an appropriate shock (p=0.64). Eighty‐nine patients (47%) with IHD and 36 (38%) with non‐IHD died during follow‐up (p=0.19). The rate of shocks or death over time was similar in patients with IHD and non‐IHD according to Kaplan‐Meier survival curve analysis (log‐rank p=0.10). Conclusion: In this population, there were no differences in appropriate shocks or all‐cause mortality in the two groups. Palavras‐chave: Cardioversor desfibrilhador implantável, Cardiopatia não isquémica, Cardiopatia isquémica, Choque apropriado, Morte, Keywords: Implantable defibrillator, Non‐ischemic heart disease, Ischemic heart disease, Appropriate shock, Death