Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (Jun 2019)
Manipulação de líquidos orais para crianças: reconhecendo e minimizando os riscos
Abstract
“Compounding of medicines” (termo inglês utilizado que significa manipulação, transformação ou dispensação extemporânea de medicamentos para a individualização da dose), geralmente ocorre na farmácia hospitalar ou comunitária. As práticas incluem diluição e mistura de injetáveis; mistura de preparações tópicas, manipulação de diversas substâncias na apresentação sólida para doses orais bem como a preparação de doses na apresentação líquidas para crianças. A manipulação está associada a riscos para o paciente e há preocupações quanto à qualidade, estabilidade, segurança e eficácia do produto final1. A prática envolve o preparo (de um novo produto que não será registrado pela característica própria da formulação extemporânea) com informações frequentemente limitadas sobre estabilidade química ou física, bem como o potencial de contaminação microbiana. A manipulação também é intrinsecamente propensa a erros de medicação, pois envolve cálculos de dose por unidade de volume e pode requerer técnicas de medição especiais durante a administração. A atenção tem sido focada, em sua maior parte, nos riscos associados a manipulação dos produtos parenterais, uma vez que os eventos adversos tendem a ser mais óbvios e imediatos. Os eventos adversos associados a manipulação de produtos injetáveis tem envolvido erros de cálculo e contaminação com microrganismos patogênicos2. Relatórios recentes de eventos adversos e erros de medicação envolvendo a manipulação de líquidos orais para crianças também aumentaram a conscientização sobre os possíveis problemas associados a esta prática. Um estudo descreveu a ocorrência de toxicidade grave em crianças por problemas na manipulação de flecainida líquido oral na qual erros de cálculo ou precipitação devido a flutuações na temperatura de armazenamento levaram a administração da dose errada3,4. Em outro caso, uma criança sofreu toxicidade grave pela troca de bicarbonado de sódio por baclofeno no preparo de omeprazol com bicarbonato prescrito para a paciente5. No Canadá, uma criança morreu quando o baclofeno foi usado em vez triptofano em pó na manipulação de um medicamento de uso regular para desordens do sono6.Na Nova Zelândia, o Centro de Farmacovigilância recebeu diversas notificações de eventos adversos associados a produtos manipulados. Curiosamente, várias notificações envolveram erros na manipulação de baclofeno e flecainida. Estes fármacos representam um risco particularmente alto quando combinadas, pois apresentam um índice terapêutico estreito e as consequências da sobredosagem são graves e potencialmente fatais. A variabilidade na prática da manipulação também é uma fonte potencial de erros, pois os pacientes podem receber uma concentração diferente à medida que transitam entre os estabelecimentos de saúde7. Em alguns locais, tanto o produto industrializado quanto as preparações manipuladas do mesmo medicamento estão disponíveis, representando outra fonte de confusão.Os riscos da manipulação podem ser categorizados como clínicos e técnicos8. O risco clínico é a consequência de receber uma dose sub-terapêutica ou tóxica, sendo alto, portanto com fármacos como fenobarbital, baclofeno, flecainida, varfarina e beta-bloqueadores. O risco técnico é a chance de ocorrer uma dose sub-terapêutica ou tóxica pela instabilidade química ou física. Potencias erros de medicação pelo armazenamento ou administração incorretos podem contribuir para esse risco. O risco global da formulação é a combinação de fatores clínicos e técnicos e os farmacêuticos estão em boa posição para gerenciar esse risco e prevenir eventos prejudiciais. Recomendações para minimizar o risco associado à manipulação de líquidos orais:1. Antes de manipular um líquido oral, realize uma avaliação de risco e considere estratégias para gerenciá-los. Seja especialmente vigilante sobre o potencial de eventos adversos com medicamentos de alto risco e use preparações comerciais ou alternativas terapêuticas, se possível, para reduzir os riscos relacionados com a composição.2. Use fórmulas padronizadas e validadas quando estiverem disponíveis. Alguns países têm formulários de informação disponíveis e a maioria se refere a estudos publicados realizados usando suspensões disponíveis no mercado como base9,10,11. Use fórmulas como indicado sem substituições ou alterações nas condições de armazenamento, pois qualquer mudança pode afetar a estabilidade.