Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DAUNO 60 OU DAUNO 90? UMA ANÁLISE MATEMÁTICA DO PROBLEMA ATRAVÉS DA INTERPOLAÇÃO DE LAGRANGE EM MODELO LOWESS

  • IL Pontes,
  • MS Cidrão,
  • JBSC Cidrão,
  • GM Oliveira,
  • FM Cunha,
  • DS Oliveira,
  • FAC Silva,
  • KMC Albuquerque,
  • LA Gurgel,
  • RM Ribeiro

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S287 – S288

Abstract

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Introdução/Objetivos: Os esquemas clássicos de indução de remissão em leucemia mieloide aguda envolvem o uso de agentes antracíclicos e citarabina. A melhor dose do agente antracíclico é ainda motivo de debate, especialmente no cenário de estudos citogenéticos, terapia-alvo e agentes imunoterápicos, alternativas usualmente não disponíveis no sistema público. O presente estudo busca avaliar maneiras de selecionar o melhor esquema em um grupo seleto de pacientes com bases em métodos matemáticos. Material e métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo, utilizando dados dos internamentos de pacientes na unidade de Hematologia do Hospital Geral de Fortaleza do período de 03/08/2015 a 19/07/2023. Foram avaliados pacientes com leucemia mieloide aguda que fizeram indução com daunorrubicina 60 g/m2 (DNR60) ou 90 mg/m2 (DNR90). Foram utilizados testes não-paramétricos para avaliação de variáveis não pareadas. O evento óbito foi considerado como 1 na análise binária e o não óbito, 0; a análise da influência da idade foi feita segundo o modelo LOWESS (locally weighted scatterplot smoothing) de regressão entre pacientes que fizeram DNR60 ou DNR90. Para a formulação do polinômio descritor das curvas foi utilizado o método de interpolação de Lagrange, com a idade sendo o eixo das abscissas, e o evento (1/0), o das ordenadas. Através da interpolação pelo método de Lagrange dos valores coordenados em DNR 90 e DNR 60 obtém-se as equações que descrevem o comportamento da distribuição do evento óbito entre o grupo de idade de pacientes avaliados. Foram analisados os dados completos de 38 pacientes durante o período do estudo. Resultados: Segundo a análise da resolução da equação polinomial oriunda da interpolação, a partir da idade de 40-45 anos há mais pacientes que fizeram DNR90 com chance de óbito em relação aos pacientes que fizeram DNR60. A resolução da equação possui apenas uma raiz real, sendo as duas outras imaginárias. Ao analisar as curvas separadamente, a curva da DNR60 tem mais momentos de proximidade a 1 do que a curva da DNR90, especialmente em idades abaixo de 40 anos, apesar da associação com idade ao diagnóstico não ter tido significância estatística, o que pode refletir um viés de seleção de pacientes mais graves terem feito doses menores de daunorrubicina. Não houve diferença entre os grupos em relação a chance de sobrevida global (p-valor = 0,189). Quando se avaliam os grupos de idade acima ou abaixo de 40 com DNR 60 ou DNR 90 também não houve diferença estatisticamente significativa. Discussão: Os dados são discordantes na avaliação da superioridade de um esquema sobre o outro, apesar de demonstrarem piores desfechos em pacientes que fizeram DNR 90 com idade acima de 40 anos, sendo a idade ótima para esse esquema o grupo analisado de 20 a 40 anos. Muitos fatores não foram analisados nesse recorte; no entanto, o uso de ferramentas de interpolação juntamente com análise de regressão através de LOWESS foram úteis para descrever o comportamento de nossos pacientes no período avaliado. Conclusão: A utilização de métodos matemáticos para tomada de decisão em medicina tem crescido nos últimos anos, especialmente com a evolução da Medicina Baseada em Evidências e com o uso de instrumentos de Machine Learning e inteligência artificial. O uso dessas ferramentas na definição da idade de maior risco para evento óbito no grupo de pacientes analisados nesse estudo demonstraram a idade de 40 anos como ponto de inflexão entre as curvas DNR60 e DNR90.