Cena (Jan 2024)

I fake it, ergo sum: o obsceno enquanto perturbador das convenções da cena

  • Kysy Amarante Fischer,
  • Vinícius Armiliato

DOI
https://doi.org/10.22456/2236-3254.135465
Journal volume & issue
Vol. 42, no. 1

Abstract

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O presente ensaio aborda a noção de estado obsceno no interior das artes da cena. Considerando a existência de um conjunto de prerrogativas que balizam o que compõe ou não uma cena, o trabalho objetiva indicar como o conceito de obsceno pode ser situado como elemento de desestabilização das convenções da cena, da sexualidade e do corpo. Questiona-se a respeito do caráter ficcional envolvido tanto na composição cênica quanto no estabelecimento de parâmetros que normatizam o ato artístico ou a performance. Para abordar tal questão, parte-se da análise de duas performances de palhaçaria pós-pornográfica do coletivo ABA NAIA (Berlim, Alemanha), do uso de referências bibliográficas das artes e da filosofia, bem como de uma entrevista com André Masseno, artista brasileiro cuja obra foi tomada como referência pelo coletivo. Ao longo do ensaio, o obsceno é aproximado do cômico e da pós-pornografia. Ao considerar o uso da expressão em uma das performances I fake it, ergo sum, jocosamente derivada da célebre expressão cartesiana Ego Cogito ergo sum, o caráter ficcional das normas cênicas é abordado. Conclui-se que o coletivo ABA NAIA indica o caráter fake de convenções, utilizando-os como potência para dessacralizar noções de essência, de finalidade dos corpos e de natureza humana.