Naturaleza y Sociedad: Desafíos Medioambientales (Aug 2023)

Levar a sério a rede de vínculos cósmicos das religiões de matriz africana: entrevista com Marcio Goldman

  • Marcio Goldman,
  • Luis Meza Álvarez

DOI
https://doi.org/10.53010/nys6.06
Journal volume & issue
no. 6

Abstract

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Exploramos com Marcio Goldman alguns aspectos que contribuem para ilustrar os princípios cosmológicos do que é conhecido na literatura acadêmica brasileira contemporânea como “religiões de matriz africana”. Por meio das oferendas às divindades, somos apresentados a uma compreensão da dinâmica das forças que sustentam o universo das religiões afro-brasileiras, bem como a uma dimensão nacional de algumas das polêmicas sobre suas práticas. Em particular, ao analisar os argumentos que sustentam as críticas às oferendas de animais, examinamos os elementos problemáticos das concepções e sensibilidades contemporâneas ao abordar as relações entre essas práticas e o meio ambiente, entre humanos e não humanos e entre humanos e divindades. Assim, são apontados os limites e as contradições dos pressupostos teóricos e conceituais com os quais esses universos religiosos são geralmente abordados. Essas perspectivas reproduzem, de forma intencional ou inadvertida, visões simplistas e preconceituosas; mais especificamente, revelam suas raízes etnocêntricas e racistas. A partir de uma longa experiência de pesquisa em um terreiro de candomblé angola, como modulação de um universo religioso mais amplo, Marcio Goldman apresenta uma matriz de inteligibilidade que traduz a complexidade de um modo de pensar que concebe o mundo como uma grande rede que conecta tudo o que existe (humanos, divindades, animais, plantas etc.). Essa concepção está presente nas diversas expressões ou modulações das religiões de matriz africana nas Américas (candomblé, santería, vodu etc.). As oferendas e o processo legal que buscou bani-las são úteis para se pensar em visões de mundo que se confrontam, em condições de desigualdade, e trazem à antropologia o desafio de realizar um exercício capaz de retransmitir um diálogo simétrico e não hierárquico, como expressão de uma relação respeitosa com as religiões de matriz africana. Isso, por sua vez, exige da prática científica antropológica uma desaceleração capaz de criar uma linguagem de comunicação baseada em um diálogo que não seja construído a partir de uma posição de superioridade.

Keywords