Jornal de Assistência Farmacêutica e Farmacoeconomia (Nov 2024)
ID254 Impacto do deslocamento dos pacientes no acesso e desfechos de procedimentos de alta complexidade em cardiologia no SUS: uma análise de dados de mundo real
Abstract
Introdução Um dos princípios da regionalização do Sistema Único de Saúde (SUS) é garantir acesso com equidade ao cuidado em saúde nos diferentes níveis. Os procedimentos de alta complexidade em cardiologia (ACC) são restritos a centros de atenção terciária, distribuídos no território nacional. Nosso objetivo foi analisar a distância entre o município de residência e o centro de atendimento, de acordo com a região de residência e organização dos procedimentos, como indicador de acesso a procedimentos de ACC e avaliar o impacto sobre tempo de permanência e letalidade hospitalar. Métodos Estudo epidemiológico retrospectivo com dados do Sistema de Informação Hospitalar do SUS, pareados pelo projeto VinculaSUS. Foram selecionados registros de admissões hospitalares aprovadas entre 2019 e 2020 para procedimentos principais de cirurgia cardiovascular e cardiologia intervencionista (organização 04.06.01 e 04.06.03 da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS, respectivamente). Para cálculo de distância em quilômetros (km) foram utilizadas as coordenadas geográficas dos municípios. As análises foram conduzidas em linguagem R. Resultados No período analisado, 318.428 procedimentos de ACC foram realizados em 271.341 pacientes (61,7% do sexo masculino, 47% brancos, 28% pardos, 12% sem informação), com 30.039 (11,1%) pacientes realizando mais de um procedimento de ACC e 13.414 (4,9%) com repetição de um mesmo procedimento. Os procedimentos foram realizados em 594 centros, concentrados na região Sudeste (51%), Sul (20%) e Nordeste (16%), regiões de residência da maior parte dos pacientes (44,4%, 27,8% e 17,8%, respectivamente). Os procedimentos tiveram principalmente caráter de urgência (211.315, 66,4%) e em sua maioria foram de cardiologia intervencionista (185.521, 58,3%), exceto para região Norte, onde a maioria dos procedimentos foi de cirurgia cardiovascular (56,5%). Apenas 43% dos procedimentos foram realizados no mesmo município de residência dos pacientes, 30% dos procedimentos envolveram deslocamento entre 20 e 100km e 15% entre 100 e 500km. A distância média percorrida entre o município de residência e do centro de saúde foi de 59±162km e 1,5% dos pacientes tiveram deslocamento interestadual para o procedimento (mais frequente para residentes da região Norte, 8,5%). A região Norte apresenta maior média de deslocamento dos pacientes (243±608km), seguida por Nordeste (93±177km), Centro-Oeste (89±184km), Sul (48±96km) e Sudeste (36±82km). A permanência média foi de 6,6±7,4 dias e 4,2% de letalidade hospitalar, sendo maiores em casos de deslocamento ≥1.000km (10,6±9,8 dias e 7% de letalidade, relativo a 1.380 procedimentos). Discussão e conclusões No SUS, aproximadamente 43% dos procedimentos de ACC foram realizados no mesmo município de residência dos pacientes, enquanto 45% demandaram deslocamento intermunicipal de 20 a 100km, com diferenças entre as regiões de residência dos pacientes. A necessidade de deslocamento superior a 1.000km, além de representar um custo indireto não negligenciável, pode ser um fator de agravo clínico, tendo resultado em maior letalidade e tempo de permanência, além de potencial restrição das opções terapêuticas, especialmente em situações de risco de vida. Esses dados reforçam a importância de uma reorganização da assistência cardiovascular no país.
Keywords