Revista de Saúde Pública (Aug 2004)

Opinião de mulheres e médicos brasileiros sobre a preferência pela via de parto Brazilian women and physicians' viewpoints on their preferred route of delivery

  • Aníbal Faúndes,
  • Karla Simônia de Pádua,
  • Maria José Duarte Osis,
  • José Guilherme Cecatti,
  • Maria Helena de Sousa

DOI
https://doi.org/10.1590/S0034-89102004000400002
Journal volume & issue
Vol. 38, no. 4
pp. 488 – 494

Abstract

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OBJETIVO: Conhecer a preferência de mulheres quanto às vias e formas de parto, e a opinião de médicos a respeito dessa preferência. MÉTODOS: Foram entrevistadas 656 mulheres atendidas no Sistema Único de Saúde, em hospitais de São Paulo e Pernambuco incluídos no Estudo Latino-Americano de Cesárea (ELAC): 230 em três hospitais de intervenção, em que a estratégia da segunda opinião diante da decisão de realizar uma cesárea foi adotada como rotina, e 426 mulheres em quatro hospitais de controle, onde não houve intervenção. Os médicos responderam a um auto-questionário, sendo 77 dos hospitais de intervenção e 70 dos de controle. Para análise dos dados foram utilizados o qui-quadrado de Mantel-Haenszel, o teste Yates ou o Exacto de Fischer. RESULTADOS: Nos dois tipos de hospital, a grande maioria das mulheres declarou preferir o parto vaginal à cesárea. Essa preferência foi significativamente maior entre as entrevistadas que já haviam experimentado as duas formas de parto (cerca de 90% nos dois tipos de hospital), comparadas às que haviam tido só cesáreas (72,8% nos hospitais de intervenção e 77,8% nos de controle). Na opinião de 45% dos médicos dos hospitais de intervenção e de 55% dos de hospitais de controle, a maioria das mulheres submetidas a uma cesárea sentia-se satisfeita; 81 e 85% dos médicos, respectivamente, consideraram que as mulheres solicitam cesariana, porque têm medo do parto vaginal. CONCLUSÕES: O conceito de que a principal causa do aumento na taxa de cesárea é o respeito dos desejos das mulheres por parte dos médicos não tem sustentação na opinião declarada pelas mulheres. Uma melhor comunicação entre médicos e mulheres grávidas talvez possa contribuir para melhoria da situação atual.OBJECTIVE: To describe women's preferred route of delivery and physicians' viewpoint on that. METHODS: A total of 656 women who gave birth in the National Health System hospitals of the state of São Paulo and Pernambuco and were enrolled in the Latin American Cesarean Section Study (ELAC) were interviewed. Of them, 230 women were selected from three intervention hospitals where patients routinely sought a second opinion when faced with the decision of undergoing a cesarean section, and 426 women were selected from control hospitals. Also, 72 physicians in the intervention hospitals and 70 in the control hospitals filled out a self-administered structured questionnaire. Data analysis was carried out using Mantel-Haenszel's chi-square test, Yates' test and Fischer's exact test. RESULTS: The majority of women reported preferring vaginal delivery than a cesarean section in both groups of hospitals. This preference was significantly higher among women who had had both vaginal delivery and cesarean section (nearly 90% in both groups of hospitals) compared to those who had cesarean sections only (72.8% in intervention hospitals and 77.8% in control hospitals). According to 45% physicians from intervention hospitals and 55% from control hospitals, most women who underwent cesarean sections are satisfied with that; 81% and 85% physicians from intervention and control hospitals, respectively, believed women prefer a cesarean sections out of fear of vaginal deliveries. CONCLUSIONS: The belief that the main reason for increasing cesarean section rates is fulfilling women's desire by their doctors seems to have no support. Better communication between physicians and pregnant women could possibly contribute to improve the current situation.

Keywords