Sinais de Cena (Dec 2022)
Where does the body go when the dance is over? An apology for goodbye.
Abstract
Embalado pela letra de uma música de Leo Middea, neste texto deixo-me levar pela evocação da minha experiência vivida e imaginária. O tom não é, exactamente, o usado na linha tradicional de um artigo científico. A escrita é o resultado da convocação das memórias íntimas do meu corpo posto em acção. Os conceitos e posicionamentos teóricos, que se vão desdobrando ao longo do texto, actuam como suportes de referência para um melhor aprofundamento dessa actividade perceptiva, mas não são o fim em si mesmos. O objectivo é abrir um olhar alternativo sobre o corpo quando colocado em relação com a vida quotidiana, e não intensificar a perspectiva analítica sobre o mundo. Apoio-me, em particular, no meu envolvimento em Don’t be frightened of turning the page, um workshop conduzido por Alessandro Sciarronni, no qual fui levado a explorar a prática de girar o corpo sobre si. É a partir desta reminiscência somática que proponho a ideia de “saída” enquanto gesto de convergência com uma possível ética dos corpos. Uma ética baseada no apelo pela dimensão literal do corpo enquanto movimento de reactualização do sujeito, a partir do qual se podem recriar outras possibilidades de investimento político. Na medida em que se desenrola em diálogo com as fenomenologias específicas de consciencialização cognitiva, o texto não deixa, no entanto, de adoptar uma perspectiva científica. Precisamente porque, ao situar-se no contexto das possibilidades de percepção a partir do corpo, faz reverberar um conjunto de questões filosóficas, antropológicas e culturais sobre o corpo-em-relação com o Outro, ao mesmo tempo que se inscreve no debate sobre a dinâmica (abiótica) da actual economia do conhecimento.