Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE CONCENTRADO DE HEMÁCIAS PARA ADEQUAÇÃO DO PROTOCOLO DE RESERVA CIRÚRGICA
Abstract
Objetivo: Dados da literatura mostram que apenas uma pequena porcentagem de unidades de sangue reservadas é de fato utilizadas, gerando custos hospitalares desnecessários. Nesse contexto, o objetivo proposto foi de identificar o perfil de solicitação e utilização do concentrado de hemácias (CH) nas cirurgias eletivas, de diferentes especialidades médicas para adequação do protocolo. Material e métodos: Trata-se de estudo observacional, retrospectivo, com abordagem quantitativa de cirurgias eletivas com necessidade de reserva sanguínea, do Hospital Unimed Piracicaba no período de janeiro a dezembro de 2023. Foram calculados dois índices transfusionais: Índice de Pacientes Transfundidos (IPT) e Índice de Utilização de Concentrado de Hemácias (IUCH). Resultados: Foram avaliadas 1.376 cirurgias com reserva de hemocomponentes, o equivalente a 6,2% do total de procedimentos cirúrgicos (22.159). Destes, 611 casos correspondem a CH que representam 44,4% (611/1376). O total de unidades de CH reservadas foi 624 e transfundidas 63 (10%), deixando 90% sem utilização. As três especialidades com maior solicitação foram: ortopedia (N:187;31%), cirurgia geral (N:137;22%) e cardíaca (N:74;12%). Contudo, as cirurgias cardíacas e vasculares, obtiveram a maior taxa transfusional, com 13,1% e 12,5% respectivamente. O procedimento cirúrgico de maior utilização de CH (% > 4%) foi cirurgias valvulares (17,7%), seguidos por: laparotomia exploradora planejada (12,9%), revascularização miocárdica/fratura de fêmur (9,6%) e decorticação pulmonar/aneurisma de aorta torácica (4,8%). Dos 76 tipos de cirurgias avaliadas, 22(29%) apresentaram IPT > 10%, 2(3%) IPT entre 1-10% e 52(68%) IPT 2 e 8(33%) 10%, recomendando a compatibilização de sangue previamente à cirurgia. Em outros 52 apresentaram IPT < 1%, indicando nenhum preparo prévio. O IUCH representa uma relação entre unidades compatibilizadas/unidades transfundidas (C/T). Observamos 67% com valor maior que 2, considerado como tendo número excessivo de unidades preparadas. É notável que a maioria dos CH compatibilizados não foram utilizados, mesmo após 24 horas do pós-operatório. Dados semelhantes foram encontrados em inúmeros trabalhos e demonstraram que a maior demanda de hemocomponentes estão relacionados a eventos cirúrgicos, com consequente bolsas preparadas e não utilizadas. Essas informações reforçam a importância de cada serviço de Hemoterapia analisar continuamente os dados de CH no pré-operatório, mediante solicitação/uso e reformular os protocolos de acordo com a realidade de cada Instituição. Conclusão: A especialidade com maior índice transfusional foi cirurgias cardíacas. Aplicação dos índices IPT e IUCH podem orientar as solicitações de hemácias no pré-operatório de cirurgias eletivas. Todas as especialidades cirúrgicas poderiam economizar com os custos de solicitação de CH. Atualizar o protocolo de reserva baseado na utilização histórica, possibilita a otimização de recursos operacionais, envolvendo principalmente a gestão de estoque, redução de custos e melhoria no atendimento. O uso racional do sangue é primordial para eficácia em procedimentos hemoterápicos.