Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ICTERÍCIA EM RECÉM-NASCIDO COM PRESENÇA DE ANTI-B NO ELUATO LEVANDO À EXSANGUINEO TRANSFUSÃO: RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: A exsanguineotransfusão (EXT) é um procedimento terapêutico crucial para o tratamento de condições graves em recém-nascidos, como a icterícia neonatal severa. Este procedimento envolve a substituição do sangue do recém-nascido por sangue compatível de um doador, visando reverter a anemia, reduzir os títulos de anticorpos maternos e remover hemácias sensibilizadas. As principais indicações para EXT incluem a Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN), frequentemente causada pela incompatibilidade materno-fetal dos sistemas ABO e Rh, e hiperbilirrubinemia. Objetivo: Relatar um caso de icterícia grave que levou à necessidade de exsanguineotransfusão, com suspeita principal de incompatibilidade materno-fetal do sistema ABO. Caso: Paciente recém-nascido (RN) do sexo masculino, com tipagem sanguínea materna O positivo e tipagem fetal B positivo, apresentou Coombs direto positivo com identificação de anti-B, com titulação de 1:8. O RN foi admitido na UTI neonatal devido a icterícia precoce, com bilirrubina total de 12,33 mg/dL, e anemia significativa, com hematócrito (Ht) de 33% e hemoglobina (Hb) de 10,7 g/dL. Ao analisar o histórico materno, foi identificado o traço falcêmico, uma condição que poderia potencializar a hemólise no RN. Diante desse quadro, foi solicitada exsanguineotransfusão com troca volêmica de 625 mL, utilizando dois concentrados de hemácias filtradas, irradiadas, lavadas e fenotipadas (CHFI), além de duas unidades de plasma fresco congelado (PFC). Discussão: A EXT é fundamental para reverter a anemia grave, reduzir os títulos de anticorpos maternos e eliminar hemácias sensibilizadas. Cerca de 15-25% das gestações apresentam incompatibilidade ABO, mas apenas 1,5-2,5% evoluem para DHRN significativa, tipicamente quando a mãe tem sangue tipo O e o feto tipo A ou B. Embora a incompatibilidade ABO seja geralmente menos severa devido à presença de anticorpos IgM, que não atravessam a placenta, anticorpos IgG podem causar hemólise fetal e icterícia neonatal. No caso em questão, a hemólise provocada pelo anticorpo anti-B é relativamente rara e particularmente grave. A presença do traço falcêmico na mãe, que também poderia estar presente no recém-nascido, pode ter potencializado a hemólise, embora o traço falcêmico não tenha sido inicialmente investigado no RN. A EXT foi essencial para estabilizar o paciente, reduzindo a concentração de anticorpos maternos e substituindo hemácias sensibilizadas. Conclusão: Embora menos comum e de baixa incidência, a Doença Hemolítica do Recém-Nascido associada aos anticorpos do sistema ABO pode causar casos graves de icterícia, que podem exigir exsanguineotransfusão. O presente caso ilustra a importância desse procedimento em situações críticas para evitar complicações graves e assegurar a recuperação do recém-nascido.