Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)

INFECÇÃO HIPERENDÊMICA DE HTLV-1/2 EM INDÍGENAS DA ETNIA KAYAPÓ, NORTE DO BRASIL

  • Isabella Nogueira Abreu,
  • Vanessa de Oliveira Freitas,
  • Carlos Neandro Cordeiro de Lima,
  • Felipe Teixeira Lopes,
  • Aline Cecy Rocha de Lima,
  • Wandrey Roberto dos Santos Brito,
  • Bernardo Cintra dos Santos,
  • Bruno Sarmento Botelho,
  • Eliene Rodrigues Putira Sacuena,
  • Leonardo Gabriel Campelo Pinto de Figueiredo,
  • Izaura M.V. Cayres-Vallinoto,
  • Ricardo Ishak,
  • João Farias Guerreiro,
  • Antonio Carlos Rosario Vallinoto

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102272

Abstract

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Introdução/Objetivo: A infecção pelo HTLV-2 é endêmica em povos indígenas das Américas, tendo sua origem no continente atribuída ao fluxo migratório dos povos ancestrais dos ameríndios. O presente estudo teve como objetivo investigar a prevalência da infecção pelos HTLV-1/2 em indígenas da etnia Kayapó. Método: A prevalência da infecção pelo HTLV-1/2 foi investigada em 661 indígenas (371 mulheres e 290 homens), com a idades variando entre 3 meses a 94 anos (média igual a 29 anos), pertencentes do povo Kayapó, subgrupos Xikrin do Bacajá (n = 216), Kararaô (n = 44), Gorotite (n = 261) e Kokraimoro (n = 140), localizados no estado do Pará, região Norte do Brasil. Após consentimento das lideranças indígenas, amostras de sangue venoso foram coletas em tubos de EDTA e o plasma foi utilizado na triagem realizada por meio de ensaio de imunoabsorção enzimática - ELISA (Murex HTLV-I+II, DiaSorin, Dartford, UK) para pesquisa de anticorpos contra os HTLV-1/2. Resultados: Do total de indivíduos testados, 111 (16,8%) foram reagentes no ELISA, sendo 37,8% (42/111) homens e 62,2% (69/111) mulheres. A distribuição da prevalência da infecção pelo HTLV foi bastante heterogênea entre as populações: Xikrin (17,6%), Gorotire (21,1%) e Kokraimoro (12,9%). Não foi encontrada infecção no povo Kararaô. A média de idade dos positivos foi de 48,6 anos, variando entre 2 e 86 anos. A infecção foi mais prevalente em indivíduos acima de 61 anos (61,1%), sendo as mulheres mais acometidas. Conclusão: Descrevemos aqui uma infecção hiperendêmica de HTLV-1/2 entre três subgrupos do povo Kayapó e a ausência de infecção observada apenas no subgrupo Kararaô. A alta prevalência de infecção nesses subgrupos deve ser reflexo de diferentes perfis epidemiológicos observados nestes povos, tais como a transmissão sexual com múltiplos parceiros e o aleitamento materno, especialmente em casos de amamentação cruzada. Ademais, o efeito de fundador, o isolamento sócio-geográfico e o número amostral reduzido podem explicar a ausência de infecção e proteção à emergência do HTLV no subgrupo Kararaô.