Saúde e Sociedade (Sep 2011)
Uma Análise das Políticas de Enfrentamento ao HIV/Aids na Perspectiva da Interseccionalidade de Raça e Gênero Analysis of the HIV/AIDS Policies from a Gender and Race Intersectional Perspective
Abstract
Este artigo tem por objetivo analisar as políticas de enfrentamento ao HIV/Aids com foco nas campanhas em torno da temática, na perspectiva da interseccionalidade de raça e gênero. Tal perspectiva nos auxilia a pensar como se entrecruzam e potencializam eixos de opressão, mas também permite visualizar uma ação política que gera processos de desconstrução dessas desigualdades, abrindo a possibilidade de transformação das instituições na promoção de igualdade racial e de gênero. Os dados etnográficos analisados foram coletados mediante pesquisa qualitativa, que focou as ações do movimento negro e a demanda ao poder público pelo enfrentamento ao HIV/Aids entre a população negra na região Sul do Brasil. No primeiro tópico do texto, examinou-se a relação entre raça, gênero e saúde por meio do conceito de biopoder. Na segunda parte, realizou-se uma análise das representações de corpo e sujeitos mobilizadas em duas campanhas de enfrentamento ao HIV/ Aids em âmbito nacional que tiveram como protagonista uma mulher negra, assim como as disputas em torno dessas campanhas. Como resultado da análise, percebeu-se a centralidade do corpo como expressão na luta política do movimento de mulheres negras, enfatizando e questionando a vulnerabilidade social produzida pelo trabalho da biopolítica sobre os corpos, particularmente quando se leva em consideração a intersecção de raça e gênero.This article aims to analyze the HIV/AIDS policies, particularly campaigns, in the perspective of race and gender intersection. Such perspective enables the understanding of how gender oppression and race oppression intersect each other, whereas, on the other hand, political action deconstructs these inequalities and enables the transformation of institutions in the promotion of gender and race equality. The ethnographic data I analyzed were collected during a qualitative research that focused on the actions carried out by organizations of the black movement and on their demands before the public power for participation in the struggle against the spread of the epidemics among the black population of the Southern region of Brazil. In the first part, I employ the concept of biopower to analyze the relation between race, gender and health. In the second part, I analyze the representations of body and subject activated in two nationwide HIV/AIDS campaigns centered on the image of a black woman, and the debates they brought about. The analysis reveals the centrality of the body as the expression of the black women movement's political struggle, stressing on and questioning the social vulnerability that results from the impact of biopolitics on the bodies, especially when gender and race are brought together.
Keywords