Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Sep 2006)
Transferência placentária de drogas Placental drug transfer
Abstract
Grávidas podem depender do uso de medicações para minimizar os agravos da doença preexistente. A gravidez, por si só, pode causar situações que comprometem o bem-estar materno, como náuseas e vômitos, as quais necessitam de tratamento. O obstetra deve estar atento à transferência placentária de drogas e à exposição do feto a agentes teratogênicos ou tóxicos, que podem comprometer o seu desenvolvimento ou mesmo sua vida futura.O transporte através da placenta envolve o movimento de moléculas entre três compartimentos: sangue materno, citoplasma do sinciciotrofoblasto e sangue fetal. Esse movimento pode ocorrer pelos seguintes mecanismos: difusão simples, difusão facilitada, transporte ativo, bombas classe P, V, F e grande família ABC e endocitose. Com o uso de anticonvulsivantes a incidência de malformações maiores em recém-nascidos expostos é de 4 a 6%, comparado com 2 a 4% na população geral. A politerapia é mais lesiva, especialmente se o ácido valpróico e a hidantoína fazem parte da associação. Para as pacientes epilépticas clinicamente assintomáticas há dois anos recomenda-se a suspensão da drogas em uso, porém se apresentam crises, torna-se prudente consultar neurologista para discussão da terapia anticonvulsivante com melhores benefícios e menores efeitos colaterais. Os anestésicos locais e os opióides são largamente utilizados durante a resolução da gestação. A lidocaína utilizada como anestésico por via perineal para episiotomia, na dose fixa de 400 mg, apresenta alta concentração plasmática materna e alta taxa de transferência placentária no momento do nascimento, que vem alertar para o cuidado no uso de doses repetidas. A bupivacaína administrada por via epidural representa anestésico seguro, apresentando-se na forma racêmica e com transferência placentária em torno de 30%. A fentanila, anestésico opióide, utilizado por via epidural na resolução por cesariana, na dose fixa de 0,10 mg, apresenta alta taxa de transferência placentária, da ordem de 90%, o que vem alertar para cautela no uso de doses repetidas em analgesia durante o trabalho de parto.Pregnant women may depend on the use of medications to minimize the problems caused by preexisting disease, and pregnancy itself can cause situations that compromise the maternal well-being and that require treatment. The obstetrician should be aware of the placental transfer of drugs and of fetal exposure to teratogenic or toxic agents that might compromise the development of the fetus or even its future life.Transport through the placenta involves the movement of molecules between three compartments: maternal blood, cytoplasm of the syncytiotrophoblast, and fetal blood. This movement can occur through the following mechanisms: simple diffusion, facilitated diffusion, active transport, class P, V, F and large ABC family pumps, and endocytosis. With the use of anticonvulsants the incidence of major malformations in exposed newborns is 4 to 6%, compared to 2 to 4% in the general population. Multidrug treatment is more damaging, especially when valproic acid and hydantoin are part of the combination. The recommendation for epileptic patients who have been clinically asymptomatic for two years is to discontinue the drugs they are taking. However, if seizures occur it is advisable to consult a neurologist to discuss anticonvulsant therapy with better benefits and less side effects.Local anesthetics and opioids are extensively used during the resolution of pregnancy. Lidocaine applied by the perineal route for episiotomy at a fixed dose of 400 mg presents a high concentration in maternal plasma and a high rate of placental transfer at the time of birth, with the need for caution regarding the use of repeated doses. Bupivacaine administered by the epidural route is a safe anesthetic which is present in the racemic form and has a placental transfer of about 30%. Fentanyl, an opioid anesthetic used by the epidural route in resolution of cesarean section at the fixed dose of 0.10 mg, presents high rates of placental transfer of the order of 90%, requiring caution with the use of repeated doses for analgesia during labor.
Keywords