Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

O SEGUNDO RAIO CAIU: DOENÇA MALIGNA APÓS O TRANSPLANTE

  • VTR Matos,
  • LLR Matos,
  • MBS Nascimento,
  • ACA Oliveira,
  • TC Rezende,
  • LF Alves,
  • GLS Cordeiro,
  • LM Tôrres,
  • CDS Porto,
  • LKA Rocha

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S985

Abstract

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Introdução/Objetivos: A Doença Falciforme (DF) é uma doença genética e hereditária resultante da mutação no gene HBB do cromossomo 11, que induz a formação da hemoglobina HbS. Essa condição causa obstrução dos vasos sanguíneos, que pode provocar complicações graves, como crises álgicas, anemia crônica, acidentes vasculares cerebrais, sequestro esplênico, síndrome torácica aguda, entre outras. O Transplante de Medula Óssea (TMO) alogênico emergiu como uma opção terapêutica eficaz para a DF grave, ao oferecer a substituição de células-tronco hematopoiéticas defeituosas por células saudáveis. No entanto, podem existir complicações decorrentes do próprio tratamento. Esta revisão tem como objetivo abordar o conhecimento atual sobre o risco de malignidades secundárias após o TMO em pacientes com DF, utilizando dados disponíveis na literatura científica. Materiais e métodos: Foi realizada uma revisão de literatura sobre o tema utilizando a base de dados PUBMED a partir de 2014. Foram utilizados os descritores: Sickle cell disease AND Malignancy AND Hematopoietic cell transplantation. A busca resultou em 50 artigos. Foram excluídos relatos de caso e séries de caso. Foram selecionados 10 estudos que foram considerados relevantes, por correlacionarem pós-TMO para DF ao desenvolvimento secundário de neoplasia maligna, dentre os quais estão artigos originais, revisões sistemáticas e estudos prospectivos. Resultados: Existe um risco aumentado de desenvolvimento de doenças secundárias, principalmente leucemia mielóide aguda e síndromes mielodisplásicas. Fatores de risco identificados incluem o envelhecimento do indivíduo, grau de estresse eritropoiético, processo inflamatório crônico, hipóxia e acidose, apoptose ineficaz, dano endotelial constante, imunomodulação relacionada ao TMO e hematopoiese clonal. Discussão: A fisiopatologia subjacente à associação entre TMO e o aumento do risco de neoplasias em pacientes com DF permanece obscura, o que fortalece o caráter multifatorial. Tem sido postulado que a exposição prévia à irradiação e a terapia imunossupressora vinculada ao TMO alogênico podem desempenhar um papel significativo nesse processo de malignização. A irradiação corporal total, ou mesmo a específica, podem causar danos ao DNA das células-tronco hematopoiéticas remanescentes, predispondo-as a mutações malignas. Além disso, a supressão imunológica após o TMO pode comprometer os mecanismos de vigilância imunológica usuais contra antígenos. Esses dois fatores comuns aos TMOs alogênicos, quando somados ao estresse eritropoiético e inflamatório decorrentes da DF, podem contribuir para uma maior predisposição desse grupo de pacientes para a malignização. Conclusão: Estratégias de monitoramento a longo prazo são essenciais para a detecção de neoplasias. Além disso, a identificação de potenciais fatores de risco pode ajudar a melhor selecionar os pacientes com DF candidatos ao TMO alogênico, assim como contribuir para o aprimoramento da prática clínica e da abordagem terapêutica, com o propósito de diminuírem as chances de neoplasia secundária.