Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
INCIDÊNCIA DE ANTI-FYA EM ELUATO DE RECÉM-NASCIDOS
Abstract
Introdução: A Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN) é uma condição de anemia hemolítica causada pela incompatibilidade sanguínea entre mãe e feto, com os sistemas ABO e Rh sendo frequentemente envolvidos. Enquanto a incompatibilidade ABO é geralmente menos grave devido aos anticorpos IgM, que não atravessam a placenta, a incompatibilidade Rh, particularmente com o antígeno D, pode ser mais severa, pois anticorpos IgG anti-D conseguem atravessar a placenta e causar hemólise fetal. Outros anticorpos, como os do sistema Duffy, também podem estar presentes. Objetivo: : O estudo visa avaliar a incidência de anticorpos irregulares no eluato de recém-nascidos de serviços hemoterápicos em Brasília/DF e seu impacto clínico. Materiais e métodos: Foram analisados 2.629 testes da rotina materna entre janeiro e junho de 2024, focando em testes imunohematológicos com Coombs direto positivo e identificação de anticorpos nos eluatos. Os dados foram estatisticamente analisados. Resultados: : Identificaram-se 166 anticorpos, representando aproximadamente 6,33% das amostras analisadas. A distribuição dos anticorpos foi a seguinte: Anti-A (75 casos, 45,2%), Anti-B (47 casos, 28,3%), Anti-D (38 casos, 22,9%), Anti-C (2 casos, 1,2%), Anti-E (2 casos, 1,2%), Anti-c (1 caso, 0,6%) e Anti-Fya (1 caso, 0,6%). Discussão: : A análise dos resultados revelou que a incidência de anticorpos do sistema ABO na incompatibilidade materno-fetal é maior do que a dos anticorpos do sistema Rh. Isso está de acordo com a literatura, que destaca a prevalência dos anticorpos ABO na prática clínica. No entanto, o estudo observou um caso grave de icterícia devido ao anticorpo anti-B, necessitando de transfusão exsanguínea, o que contradiz a literatura que normalmente associa os anticorpos ABO a formas mais brandas de DHRN. Anticorpos do sistema Rh, como anti-D, anti-C e anti-E, foram identificados conforme o esperado, confirmando sua relevância na DHRN grave devido à alta imunogenicidade do antígeno D e à capacidade dos anticorpos IgG anti-D de atravessar a placenta. A presença de anticorpos raros, como o anti-Fya do sistema Duffy, foi observada em um caso (0,6%). Embora a literatura sugira que esses anticorpos possam causar hemólise, o recém-nascido não apresentou complicações clínicas, indicando que a incidência e impacto desses anticorpos podem ser variáveis e frequentemente menos significativos. A necessidade de protocolos claros e atualizados para a detecção e manejo de aloanticorpos menos comuns é evidente, reforçando a importância da personalização do atendimento hemoterápico para melhorar os desfechos clínicos dos recém-nascidos com DHRN. Conclusão: : O estudo confirmou que os anticorpos ABO são os mais frequentes na rotina materna, seguidos pelos anticorpos Rh, o que está alinhado com a literatura. No entanto, o caso grave associado ao anti-B contradiz a literatura que sugere que anticorpos não-ABO e não-Rh geralmente causam formas mais brandas de DHRN. Não foram encontrados casos graves de DHRN associados a anticorpos de outros sistemas.