Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

RELATO DO PRIMEIRO CASO DE MENINGOMIELITE CHAGÁSICA RECORRENTE EM PESSOA VIVENDO COM HIV/AIDS

  • Aline Borges Moreira da Rocha,
  • Ígor Melo de Almeida,
  • Jose Ernesto Vidal Bermudez,
  • José Angelo Lauletta Lindoso,
  • Augusto César Penalva de Oliveira

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103575

Abstract

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Introdução: A reativação da infecção por Trypanosoma cruzi em pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA) pode se manifestar como meningoencefalite e/ou lesões expansivas cerebrais, denominadas chagomas. Estas manifestações neurológicas estão incluídas na lista de doenças definidoras de aids no Brasil, desde 2004. Excepcionalmente tem sido descritos casos de comprometimento medular na doença de Chagas, mas não existem relatos de casos prévios de meningomielite recorrente em PVHA. Neste estudo, apresentamos o caso de uma PVHA com um segundo episódio de meningomielite causada pela T. cruzi. Relato de caso: Homem de 59 anos, natural de Orobó-PE, apresentando infecção por HIV multirresistente (CD4 de 16 células/mm³ e carga viral – HIV-1 de 169.403 cópias/ml), em abandono de tratamento antirretroviral, apresentou-se no Pronto Socorro do IIER referindo quadro progressivo, há cerca de um mês, de perda de força em membros inferiores, com dificuldade de deambulação. Como antecedente relevante, o paciente teve quadro clínico semelhante há 14 anos, sendo diagnosticado de meningomielite chagásica e tratado eficazmente com benzonidazol, sem acometimento de outros órgãos e sistemas. Na avaliação clínica da admissão atual, o paciente encontrava-se com reflexos vivos nos quatro membros, com sinal de Babinsk positivo bilateralmente, ausência de alterações esfincterianas, perda de sensação vibratória de membros inferiores, e incapaz de ficar de pé embora a força fosse grau IV nos quatro membros. A ressonância magnética (RM) evidenciou extenso hiperssinal em T2/STIR em região toracolombar, o qual mostrou realce leptomeníngeo. Na análise de líquor foi encontrada hiperproteinorraquia (86 mg/dl), hipoglicorraquia (49 mg/DL) e pleocitose (29 cel/mm³), além de visualização direta de formas tripomastigotas de T. cruzi, com exames negativos para bactérias, vírus e fungos. O paciente recebeu benzonidazol, sendo trocado posteriormente para nifurtimox devido a mielotoxicidade. O paciente evoluiu com melhora parcial do comprometimento neurológico, recebendo alta para seguimento ambulatorial, ainda em uso de medicação antiparasitária. Também foi instituído o tratamento antirretroviral, com esquema guiado por genotipagem (AZT + 3TC + TDF + DRV/R + ETV). Comentários: Esse caso constitui o primeiro relato de meningomielite chagásica recorrente em PVHA e demonstra que o diagnóstico e tratamento oportunos podem controlar esta doença oportunista.

Keywords