Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (Dec 2023)

Fatores que atraem, fixam, frustram ou afastam médicos de família da atenção primária de Florianópolis

  • Julia Pinheiro Machado,
  • Camila de Lima Magalhães,
  • Donavan de Souza Lucio

DOI
https://doi.org/10.5712/rbmfc18(45)3887
Journal volume & issue
Vol. 18, no. 45

Abstract

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Introdução: Um dos principais desafios da atenção primária no Brasil é a falta de fixação de profissionais médicos nas equipes de Saúde da Família, causando prejuízos à longitudinalidade, atributo essencial da atenção primária. Objetivo: Identificar os fatores que influenciam na atração de médicos de família e comunidade (MFC) para a atenção primária de Florianópolis, bem como fatores que os mantêm, os frustram ou os afastam. Métodos: Pesquisa qualitativa por meio de entrevistas em profundidade analisadas por análise de conteúdo convencional. Sorteamos 30 médicos de família de um painel amostral composto de três grupos: a) MFC estatutários e ativos na atenção primária de Florianópolis; b) MFC exonerados a partir de 2021; e c) médicos que prestaram, mas não assumiram, o concurso público de 2019, concurso que exigia título de especialista em MFC e foi o último realizado até o momento. Resultados: Entrevistamos 12 MFC, todos com residência médica. Deles, cinco compunham o grupo de profissionais que se exoneraram; três estavam atuantes na rede; e quatro compunham o grupo de MFC que foram aprovados no último concurso ofertado em 2019, porém não assumiram o cargo. Em síntese, os MFC são atraídos para trabalhar em Florianópolis por aspectos da cidade e pela possibilidade de desempenhar plenamente o trabalho de médico de família. Entretanto, as fragilidades do sistema de saúde público, agravadas nos últimos cinco anos e acentuadas no período crítico da pandemia de COVID-19 frustram os médicos de família a ponto de eles desejarem abandonar a atenção primária ou manter-se trabalhando às custas de sua saúde mental. Os motivos que mantêm ou mantiveram os médicos na atenção primária de Florianópolis foram principalmente a redução da carga horária assistencial e seus vínculos com família e amigos na cidade. A decisão final de exonerar-se partiu do sofrimento psíquico associado ao sentimento de sobrecarga no trabalho e/ou do salário menor que o desejado. Conclusões: Apoiados na análise dos dados, supomos que algumas estratégias, se adotadas, amenizariam a frustração de quase todos os entrevistados: a redução da carga horária com salário proporcional; a contratação de MFC volantes para cobrir ausências; a implementação de um registro eletrônico de saúde que integrasse todas as plataformas digitais utilizadas rotineiramente; o remanejamento das questões burocráticas para um profissional administrativo.

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