Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (Dec 2024)

Impacto da restrição de exames complementares cardiovasculares na Atenção Primária à Saúde

  • Juliana Maria Kerber,
  • Clara Barth dos Santos Magalhães,
  • Daniel Teixeira-dos-Santos,
  • Fernando Galvão Junior,
  • Rafaela Brugalli Zandavalli

DOI
https://doi.org/10.5712/rbmfc19(46)4208
Journal volume & issue
Vol. 19, no. 46

Abstract

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Introdução: A solicitação de exames cardiológicos para investigação de doenças cardiovasculares (DCV) prevalentes e sensíveis à Atenção Primária à Saúde (APS), como o ecocardiograma, não está disponível na APS de Porto Alegre. Ainda que grande parte dos diagnósticos de DCV sejam eminentemente clínicos, os exames complementares ao diagnóstico favorecem um melhor estadiamento e acompanhamento. Objetivo: Quantificar e avaliar os encaminhamentos realizados para a especialidade de Cardiologia com vistas à realização de exames para investigação diagnóstica de DCV, com ênfase em encaminhamentos realizados por insuficiência cardíaca (IC). Métodos: Estudo descritivo em que foram revisados 305 encaminhamentos de 9 Unidades de Saúde (USs) de Porto Alegre para a especialidade de Cardiologia no período de 01 de março de 2022 a 31 de agosto de 2022. Foram coletadas características demográficas, motivo e situação dos encaminhamentos, especialmente naqueles por suspeita de IC. Resultados: Dos 305 encaminhamentos analisados, 74 pacientes (24,2%) foram encaminhados para solicitação de exames complementares (ecocardiograma, cintilografia miocárdica, Holter, dentre outros). Dentre os pacientes encaminhados por IC, 26 (44,8%) foram encaminhados para investigação e classificação diagnóstica devido à indisponibilidade do exame, e nenhum destes pacientes teria outra indicação de permanecer em atenção secundária no momento do encaminhamento (o que representa 8,5% do total de encaminhamentos para a especialidade de Cardiologia). A maioria dos encaminhamentos por suspeita de IC estava de acordo com o protocolo de encaminhamento vigente. Conclusões: A restrição à solicitação de exames na APS de Porto Alegre, especialmente o ecocardiograma, prejudica o diagnóstico e tratamento da IC na APS e aumenta a demanda pela especialidade de Cardiologia. Este estudo destaca a necessidade de rever as políticas de restrição à solicitação de exames na APS de Porto Alegre, especialmente para condições sensíveis a esse nível de atenção.

Keywords