Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
SEGURANÇA DA TRANSFUSÃO DE SANGUE NA CENA PELO SERVIÇO PRÉ-HOSPITALAR DE AMBULÂNCIA AÉREA: UM ESTUDO DE CASO NA MACRORREGIÃO NOROESTE DO PARANÁ
Abstract
Objetivo: O trauma é uma das principais causas de mortalidade no mundo com até cinco milhões de mortes por ano em decorrência da hemorragia pós-traumática descontrolada. Desde 2022, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Maringá no Estado do Paraná, transporta em sua ambulância aérea duas unidades de concentrado de hemácias tipo O No entanto, o impacto da transfusão pré-hospitalar nesse cenário ainda não foi totalmente esclarecido. Objetivo deste estudo é investigar se existe diferença na sobrevida de pacientes resgatados pelo SAMU aéreo, com tipos sanguíneos O e não O, em relação a transfusão de emergência isotipo diferente. Material e método: Estudo transversal e retrospectivo utilizando dados de registros de atendimento do SAMU aéreo de 29 pacientes, com transfusão sanguínea realizada nos locais de acidentes rodoviários, na macrorregião noroeste do estado do Paraná, entre outubro de 2022 e junho de 2024. Todos os pacientes foram transferidos para o Hospital Universitário Regional de Maringá para análise posterior. Estes pacientes foram divididos em sobreviventes e não sobreviventes de acordo com o tempo após a transfusão (24 horas e 30 dias, para comparar: 1) a quantidade de bolsas hemotransfundidas por pacientes por meio dos testes Shapiro-Wilk (normalidade) e Mann-Whitney (estatística), 2) tipo sanguíneo (O e não O) por meio do teste de Exato de Fisher para avaliar segurança da transfusão de sangue tipo O em todos os pacientes como é realizado na prática. Resultados: : Dos 29 pacientes que receberam sangue tipo O no atendimento pré-hospitalar, 21 não tinham o tipo O. A quantidade de bolsas de hemoconcentrados transfundidas foi maior entre os sobreviventes durante as primeiras 24 horas (7,88±5,36) comparado aos não sobreviventes nas primeiras 24 horas (8,04±5,23), sem diferença significativa entre eles. O mesmo perfil foi observado entre os sobreviventes após 30 dias (9,33±7,98) comparado aos não sobreviventes após 30 dias (7,43±3,28), sem diferença significativa entre eles. Adicionalmente, a taxa de sobrevivência do grupo sanguíneo tipo O foi de 28,57% (2 de 7 pacientes), enquanto a taxa de sobrevivência do grupo sanguíneo tipo não O foi de 23,81% (5 de 21 pacientes) nas primeiras 24 horas, sem diferença significativa entre eles. Foi constatado o mesmo cenário após 30 dias, com uma taxa de sobrevivência de 42,86% (3 de 7 pacientes) para o grupo tipo O e 27,27% (6 de 21 pacientes) para o grupo tipo não O. sobreviventes e não sobreviventes após 30 dias (42,86% e 27,27%, respectivamente). Discussão: Os resultados não demonstraram correlação significativa entre quantidade de hemocomponentes transfundidos ou o tipo sanguíneo em relação à sobrevida dos pacientes a curto e longo prazo. Esses resultados eram esperados na comprovação da segurança da transfusão de concentrado de hemácias tipo O em pacientes com tipo sanguíneo não O. É possível que outros fatores, como a gravidade do trauma, comorbidades pré-existentes e tempo de atendimento, tenham um papel mais preponderante na sobrevida desses pacientes. Conclusões: : Não houve associação entre o tipo sanguíneo (O ou não O) e a quantidade de bolsas de sangue transfundidas com a sobrevida dos pacientes, tanto em 24 horas quanto em 30 dias após a transfusão, demonstrando que a transfusão em cena de de concentrado de hemácias tipo O em pacientes não O é seguro em ambiente pré hospitalar.