Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

IMPACTO DA COVID-19 NAS INTERNAÇÕES POR TROMBOSE VENOSA NO BRASIL: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE 2017 E 2022

  • LFFV Neto,
  • FW Fragomeni

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S611 – S612

Abstract

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Objetivos: Analisar a epidemiologia que cerca as internações por trombose venosa no Brasil. A partir disso, o presente trabalho busca pesquisar se houve aumento no número de internações por trombose venosa no Brasil de 2020 a 2022, período de maior expressão da pandemia por COVID-19, com mais de 36 milhões de casos, em comparação aos dois anos anteriores. Materiais e métodos: Foi realizado um estudo ecológico mediante coleta de informações disponibilizadas no Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS-TABNET). Foram consideradas as internações seguindo o critério “Flebite, Tromboflebite, Embolia e Trombose Venosa”em pacientes de 40 a 79 anos, segundo as variáveis: regiões do Brasil, ano de atendimento e faixa etária. Posteriormente, foi feita análise estatística descritiva com a utilização do Microsoft Excel. Resultados: O número de internações por Flebite, Tromboflebite, Embolia e Trombose Venosa no Brasil de 2020 a 2022 foi de 81.822 casos. Já nos anos anteriores, de 2017 a 2019, as internações por estas causas foram de 89.380, resultados diferentes do que se esperava, levando em consideração que a COVID-19 aumenta o risco tromboembólico. Discussão: Sabe-se que a resposta inflamatória sistêmica causada pela infecção pelo SARS-CoV-2 está associada a quadros de hipercoagulabilidade, marcados por aumento de Fibrinogênio, D-dímeros, Fator VIII da cascata de coagulação, resultando em eventos trombóticos. Efeito esse que parece aumentar na proporção da gravidade do quadro infeccioso. Em um estudo que avaliou 198 pacientes internados com COVID-19 em um hospital holandês, constatou-se 20% de incidência de eventos tromboembólicos, sendo 47% destes em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), com uma média de idade de 60 anos. Como os resultados das internações por essas condições se mostraram menores entre 2020 a 2022 (81.822 casos) se comparados aos anos anteriores, de 2017 a 2019, que apresentaram 89.380 casos, evidenciou-se uma discrepância surpreendente, tendo em vista o aumento do risco de eventos tromboembólicos pelo estado de hipercoagulabilidade. Embora diversos estudos internacionais mostrem relação entre a infecção pelo COVID-19 e eventos tromboembólicos, especialmente em UTI, nosso estudo mostrou um cenário contrário. A isso, podemos associar duas possíveis hipóteses, sendo a primeira relacionada ao fato do pico de incidência de eventos tromboembólicos ocorrer por volta do 20ºdia de internação, e não sendo seu motivo principal. Outra possibilidade seria a presença de um viés nos registros, relacionando de forma errônea a COVID-19 com eventos trombóticos de outras etiologias. Conclusão: Apesar de consagrado o conceito de aumento de eventos tromboembólicos decorrentes de inflamação sistêmica pela COVID-19, não se observou, no Brasil, durante o período da pandemia, aumento proporcional no número de internações por Flebite, Tromboflebites, Embolias e Tromboses Venosas. Tal fato sugere que seja necessária uma revisão mais ampla dos registros e das condições reais de hospitalização para entendermos com mais precisão a repercussão da pandemia sobre complicações tromboembólicas.