Letras de Hoje (Jan 2009)
Narciso e seu reino de sombra em Cantares, de Hilda Hilst
Abstract
Os poemas de Cantares, de Hilda Hilst, convidam ao desvelamento do mito do amor, empreitada que procuro enriquecer, neste artigo, recorrendo à matriz ovidiana do mito de Narciso e seus tantos mitemas, como a busca do conhecimento, a questão da sombra e do duplo e a intrigante relação entre amor e ódio, amor e morte. Como afirma Durand, os mitos são variações de arquétipos, o que provoca a aproximação e o entrelaçamento dos conteúdos míticos. De todos os mitos sobre os desencontros amorosos e a consequente solidão humana, poucos têm a beleza e a força psíquica desencadeada pelo mito de Narciso elaborado por Ovídio. Além do mito de Narciso, este artigo resgata a genealogia de Eros e os andróginos desafortunados, relatados por Platão, e a história de Salomão e Sulamita elaborada nos Cânticos bíblicos. O aporte teórico envolve Gilbert Durand, Jung, Freud e Kristeva