Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)
ANFOTERICINA-B EM PEDIATRIA: É POSSÍVEL ESTABELECER UM PERFIL DE USO SEGURO A PARTIR DE ANÁLISES POR ESTRATIFICAÇÃO ETÁRIA?
Abstract
Objetivos: Avaliar a segurança da anfotericina-B em diferentes faixas etárias pediátricas em busca de um “ponto de virada” em que seu uso possa representar maiores danos ao paciente. Métodos: Estudo longitudinal retrospectivo em hospital terciário infantil brasileiro. Foram incluídos registros de menores de idade que receberam pelo menos duas doses de anfotericina-B desoxicolato (D-AMB) entre janeiro de 2014 e dezembro de 2019. Resultados: Cento e vinte e sete pacientes foram estratificados conforme a idade (< 37 semanas de idade gestacional; 0 - 27 dias; 28 dias - 12 meses; 13 meses - 2 anos; 3 - 5 anos; 6 - 11 anos; 12 - 18 anos). Poucos eventos adversos relacionados à infusão durante a administração de D-AMB foram observados, porém um ponto de virada com maior frequência de aparecimento ocorreu a partir do grupo de crianças de 13 meses, com diferença estatística significativa entre neonatos e não-neonatos (p = 0,033). O teste de comparação de proporções foi utilizado para avaliar a toxicidade da D-AMB em funções orgânicas, ajustados aos valores de referência de cada faixa etária. A proporção de adequação de ureia sérica em neonatos demonstrou que menos de 60% dos pacientes estavam dentro dos níveis normais antes de receberem D-AMB. Durante o tratamento, essa proporção manteve 54% (D3), 65% (D7), 48% (D14) e 52% (final do tratamento). No entanto, o mesmo parâmetro para os não-neonatos revelou outro padrão após exposição à D-AMB, começando com 73% de adequação e, em seguida, uma sequência de diminuição chegando a 31% de adequação no D14. Nenhuma alteração considerável de creatinina sérica foi observada, embora 6,3% dos pacientes tiveram lesão renal aguda e 3,94% oligúria e/ou edema. Níveis de hemoglobina apresentaram proporção de adequação de 69% e 57% para neonatos e não-neonatos, respectivamente. Ao final do tratamento, foi possível identificar uma diferença significativa entre os dois grupos, onde os não-neonatos alcançaram um pior cenário de adequação. Conclusão: A segurança da anfotericina-B difere entre as faixas etárias e, conforme aponta a literatura, os recém-nascidos mostram-se mais preservados durante o tratamento quando comparados a crianças mais velhas. A partir da estratificação etária foi possível identificar um impacto desfavorável da formulação convencional dos 13 meses em diante, sugerindo a faixa etária dos 13 meses aos 2 anos de idade como ponto de virada para maior chance de eventos adversos relacionados à infusão e toxicidade.