Revista de Ciências do Estado (Dec 2021)
Tradição e imaginário na diplomacia brasileira
Abstract
A diplomacia desempenhou um notório papel na formação histórica do Estado do Brasil. Por essa razão, o patrono da diplomacia brasileira, o Barão de Rio Branco, tornou-se também um dos mais importantes heróis nacionais do país. Como Ministro das Relações Exteriores, Rio Branco foi responsável por conceber as linhas mestras da atuação internacional do Brasil moderno. A partir de sua administração, todo o desenvolvimento da diplomacia brasileira foi definido como a continuação dos postulados e da tradição por ele inaugurados. A relevância e a permanência desse seu legado se deram, a nosso juízo, especialmente por uma singular transformação de ordem simbólica e axiológica que imprimiu ao Itamaraty, transformação essa que lhe confere um inegável prestígio no rol dos estadistas brasileiros. Durante a República, contudo, o ícone histórico do Barão parece ter também se transformado profundamente, assumindo características típicas de uma narrativa mítica. Nesse movimento, a idealização de tal personagem converteu-o em uma espécie de mito fundador da política externa brasileira. A figura mítica de Rio Branco, portanto, é aspecto central de nossa tradição diplomática. À luz dessas considerações, o presente trabalho visa refletir sobre a construção mitológica do Barão de Rio Branco e de seu imaginário diplomático, compreendendo-os como recursos de natureza simbólica e ideológica, que são empregados por nosso Estado Nacional na perseguição de seus interesses estratégicos.