Revista Visuais (Dec 2020)
Mapa em ruína
Abstract
Este artigo apresenta um conjunto de reflexões direta ou indiretamente relacionadas com uma imagem da autoria de Giovani Batista Piranesi: um conjunto de fragmentos de mármore pertencentes a um mapa da Roma Antiga (Fig. 1). O tema da ruina emerge neste contexto preciso e singular. No ato de coligir os fragmentos do mapa, em si mesmo revelador de uma atenção de ordem diferente da habitual, constitui-se uma valorização da ruina e da sua aptidão evocativa e simbólica, mas também do seu poder apelativo da imaginação. A investigação do fundo concetual sobre o qual desponta esta imagem - considerando as áreas protocientífica, estética e artística em que ela se inscreveu no séc. XVIII- possibilita-nos a sua leitura enquanto metáfora sobre a perceção, representação e reinvenção da ruinas, no contexto urbano da cidade de Roma, naquela época. Por um lado, a imagem citada reflete a perceção da cidade como território desfigurado, por outro, a compreensão das ruinas como valor secular, configurando uma estrutura da identidade cultural e estética. Além disso, a ruina surge, neste artigo, como imensurável repositório da imaginação e como agente catalisador de movimentos psicológicos sobredeterminados. A conclusão imaginativa, inerente aos processos de contemplação estética das ruinas e, eventualmente, das construções, parece relacionar-se com características formais e visuais destes tipos de tema, visualmente caracterizados pela incompletude das formas e por aspetos de descontinuidade e interrupção.
Keywords