Memoria Americana (Nov 2017)
Insubmissos, trânsfugas e informantes:os desertores das guarnições hispano-portuguesas nas regiões centrais da América do Sul, c. 1750-1800
Abstract
A correspondência dos comandantes dos presídios em áreas de fronteira dos impérios ibéricos com freqüência dava conta da deserção de soldados e oficiais. A ubiqüidade do fenômeno faz pertinentes questionamentos sobre as condições de trabalho que predominavam nas fortificações e as motivações dos trânsfugas. Este artigo se concentra nas últimas décadas do século XVIII, nos limites entre a capitania portuguesa de Mato Grosso e as províncias espanholas do Paraguai, Mojos e Chiquitos, espaços pontilhados por destacamentos e fortificações separados uns dos outros, com pouca distância, pelos rios Paraguai e Guaporé. Sem desconsiderar que as péssimas condições materiais eram um condicionante importante para as deserções, este artigo argumenta que a insatisfação de soldados e oficiais com a distribuição de honras e prêmios também era uma dimensão essencial do fenômeno. Os trânsfugas não raro imaginavam não terem sido correspondidos em seus serviços e esforços e resolviam negociar sua lealdade como vassalos de outro monarca