PERFIL DOS PACIENTES COM ARTROPATIA HEMOFÍLICA GRAVE SUBMETIDOS À CIRURGIA ORTOPÉDICA DA HEMORREDE DO CENTRO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA DE SANTA CATARINA

Abstract

Objetivo: Descrever o perfil dos pacientes com artropatia hemofílica (AH) grave submetidos à cirurgia ortopédica na Hemorrede do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (HEMOSC). Materiais e métodos: Trata-se de um estudo observacional transversal analítico realizado no HEMOSC, na cidade de Florianópolis/SC. Foram revisados os prontuários eletrônicos dos pacientes que foram submetidos a cirurgia ortopédica entre os períodos de agosto de 2019 a julho de 2023 e coletados os dados referentes a idade, tipo e gravidade da hemofilia, presença de inibidor, tipo de fator, tipo de profilaxia, comorbidade, local, estratégia e o tipo de cirurgia, amplitude de movimento (ADM), e índice de massa corporal (IMC). Resultados: As cirurgias ortopédicas ocorreram em 12 pacientes com diagnóstico de hemofilia A (91,7%) e hemofilia B (8,3%), 50% moderada e 50% grave, média de idade de 40,50 ± 9,97 anos, média de IMC de 26,33 ± 2,14, com sobrepeso (58,3%). O tipo de fator VIII mais frequente foi o fator plasmático (58,3%) e 8,3% fator IX. A presença de inibidor manifestou-se em três pacientes (25%), dos quais dois de baixo título (16,7%) e um de alto título (8,3%). As comorbidades incluíram hepatite C (25%), hepatite B (16,7%) e um (8,3%) soropositivo para HIV. A ADM do joelho e do quadril apresentou contratura de flexão (> 15%) em 90% dos casos no período pré-operatório. Foram realizadas 16 (80,0%) artroplastias totais de joelho (ATJ) e quatro (20,0%) artroplastias totais de quadril (ATQ), das quais apenas uma ATJ de revisão. Desses, seis foram ATJ bilateral (37,5%), quatro ATJ unilateral (25%), dois ATQ unilateral (50%) e uma ATQ bilateral (25%). Houve diferença estatisticamente significativa na ADM de extensão de joelho direito (p = 0,046) e esquerdo (p = 0,018) comparando-se antes e após a cirurgia. Não houve diferença estatisticamente significativa no arco do movimento (p = 0,255). Discussão: ATJ é a intervenção cirúrgica mais comum em pacientes com hemofilia como demonstrado no presente estudo. Já a ATQ é menos comum, mas o envolvimento do quadril compromete seriamente a qualidade de vida. A ADM pré-operatória é geralmente considerada o preditor mais importante do resultado funcional após ATJ, a maioria dos pacientes apresentou redução maior que 15% na flexão no pré-operatório, especialmente no joelho. Sabe-se que a rigidez pré-operatória do joelho, com uma ADM ≤ 50 pode prejudicar significativamente os resultados clínicos devido às características da hemofilia, como tendência ao sangramento, deformidade óssea prolongada, contratura dos tecidos moles e atrofias musculares que podem impactar no período pós-operatório. A ADM é uma preocupação no pós-operatório e geralmente é difícil de alcançar. Houve diferença estatisticamente significativa na ADM de extensão de joelhos direito e esquerdo comparando-se antes e após ATJ, demonstrando que a artroplastia pode auxiliar na redução da contratura muscular. Conclusão: O perfil dos pacientes identificados foi de hemofilia A com gravidade moderada ou alta, em adultos, com sobrepeso. O tipo de fator VIII mais frequente foi o plasmático. A maioria apresentou contratura de flexão maior que 15% no pré-operatório. Em relação à cirurgia prevaleceu a ATJ bilateral. Houve diferença estatisticamente significativa na ADM de extensão de joelho direito e esquerdo comparando-se antes e após a cirurgia. Este estudo, destaca-se por ser um trabalho pioneiro no estado do SC envolvendo cirurgias ortopédicas para este tipo de população.