CSOnline (Oct 2021)
Apresentação - Uma segunda vida para as cidades musicais. Um caleidoscópio de significados e abordagens no século XXI
Abstract
A azáfama dos quotidianos faz com os sons sejam ignotos. Fazem com que gostemos de música, mas que dificilmente possamos identificar uma como favorita. Como Carlos Ruiz Zafón escreveu sobre os livros, aferimos que em cada música há uma música dentro da própria música. Na sua obra “A Sombra do Vento” (2021), Zafón refletiu sobre a quantidade de objetivos e coisas corriqueiras que se perdem ou são esquecidas, daí ter imaginado a criação de uma biblioteca especial destinada a guardar os livros esquecidos da cidade, mas cativos na alma de quem os leu. A mesma analogia pode ser feita para este Dossiê, sobre a segunda vida das cidades musicais, no sentido em que vemos a cidade no papel dessa biblioteca especial, que guarda as músicas que tocaram nas almas de outrem. A música e o som são ubíquos. Quer seja na atuação de um artista de rua, num concerto, nos carris de um comboio, nas máquinas industriais que criam sinfonias de desenvolvimento urbano, nos acordes dos passos lestos pelas calçadas, nas palavras de despedida de mais um dia e no acordar de uma alvorada (Guerra, 2020a; 2020b). Tudo isso é uma vida. Uma segunda vida que não é vista nem reconhecida. Aliás, já dizia Paulo Cunha e Silva que o futuro é o agora (Silva, 2018). É assim determinante pensar nos modos como a música marca o urbano a curto, médio e longo prazo. Na verdade, basta ter como exemplo desta afirmação o facto de apenas em 2015 a cidade de Liverpool ter sido reconhecida como uma “City of Music” pela UNESCO, muito devido à ligação desta com os The Beatles (Aughton, 1993). Ou também podemos referir cidades como Nova Orleães nos Estados Unidos da América ou o Rio de Janeiro, no Brasil, como exemplos acabados de cidades musicais contemporâneas, isto porque a cada uma delas associámos um estilo musical, um artista, um concerto ou mesmo experiências vivenciais que se criam em torno dessa ideia.