Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material (Dec 2024)
Delimitando o humano: João de Loureiro, Alexandre Rodrigues Ferreira e o debate sobre as fronteiras entre seres humanos e outros animais na segunda metade do século XVIII
Abstract
O artigo tem como objetivo analisar a participação de João de Loureiro e Alexandre Rodrigues Ferreira, ambos naturalistas lusófonos da segunda metade do século XVIII, no debate que procurou definir o ser humano e estabelecer suas diferenças em relação a outros animais (“história natural do homem”). Ao longo dos séculos XVII e XVIII, alguns autores defenderam que o ser humano seria radicalmente diferente do chamado “orang-outang”, termo usado por europeus para designar os macacos antropomorfos que então conheciam (chimpanzés e orangotangos). Outros contestaram a existência de tão rígidas fronteiras entre eles. Na 10ª edição do Systema Naturae (1758), Lineu introduziu o Homo troglodytes como espécie humana intermediária entre o Homo sapiens e o gênero Simia. Buffon, por sua vez, argumentou haver enorme diferença entre o homem e qualquer outro animal. Para ele, o Troglodytes de Lineu compreendia também macacos. Pretende-se mostrar como Loureiro e Ferreira assumiram as concepções de Buffon para criticar elementos do entendimento de homem de Lineu: Loureiro procurou refutar a ideia de diferentes espécies de homens, ao passo que Ferreira se contrapôs à ideia da existência de homens com cauda, – o Homo caudatus. Ambos criticaram como fantasiosas narrativas que atestavam a existência de descendência gerada pelo cruzamento entre humanos e macacos. Além disso, o artigo destaca o papel central das representações imagéticas nas discussões acerca do tema.
Keywords