Sociedade e Estado (Dec 2012)

Como continuaram os processos civilizadores: rumo a uma informalização dos comportamentos e a uma personalidade de terceira natureza

  • Cas Wouters

Journal volume & issue
Vol. 27, no. 3
pp. 546 – 570

Abstract

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Baseado em uma análise de livros de boas maneiras, datados desde 1890, em quatro países ocidentais, este artigo descreve como "processos civilizadores" continuaram nos séculos XIX e XX. O artigo concentra-se, primeiro, em três funções centrais de uma "boa sociedade" e de seu código de costumes e maneiras e, em seguida, descreve como, em um processo de longa duração de formalização dos costumes e maneiras e de disciplinamento de pessoas, emoções "perigosas", como aquelas relativas à violência física (incluindo a sexual), passaram a ser controladas de modos cada vez mais automáticos. Sendo assim, um tipo de personalidade de segunda natureza ou de consciência dominada tornou-se predominante. O século XX, por sua vez, assistiu ao aumento dos constrangimentos sociais em favor de condutas descontraídas, além de reflexivas, flexíveis e alertas. Tais pressões coincidiram com uma informalização dos comportamentos e uma emancipação de emoções: emoções que haviam sido negadas e reprimidas recuperaram acesso à consciência e maior aceitação nos códigos sociais. No entanto, foi somente a partir da "Revolução Expressiva" da década de 1960 que, cada vez mais, os padrões de autocontrole têm habilitado as pessoas a admitirem, para si mesmas e os outros, a possibilidade de se sentir emoções "perigosas" sem incitar vergonha, mais especificamente, o receio de perder o controle e a dignidade. À medida que se tornou "natural" perceber os impulsos e as demandas de ambas, da "primeira natureza" e da "segunda natureza", bem como os perigos e as oportunidades, de curta e longa duração, em qualquer situação ou relação, tem se desenvolvido um tipo de personalidade de "terceira natureza". Exemplos ilustrativos dessas tendências também nos ajudam a entendê-las como um processo de integração psíquica desencadeado por um processo de integração social continuada.Based on an analysis of manners books in four Western countries since 1890, this paper describes how "civilizing processes" have continued in the nineteenth and twentieth centuries. The paper first focuses on three central functions of a "good society" and its code of manners, and then describes how, in a long-term phase of formalizing manners and disciplining people, "dangerous" emotions such as those related to physical (including sexual) violence came to be controlled in increasingly automatic ways. Thus, a second-nature or conscience-dominated type of personality became dominant. The twentieth century saw rising social constraints towards being unconstrained, and yet reflective, flexible, and alert. These pressures coincided with an informalization of manners and an emancipation of emotions: emotions that had been denied and repressed regained access to consciousness and wider acceptance in social codes. Yet it has been only since the "Expressive Revolution" of the 1960s that standards of self-control have increasingly enabled people to admit, to themselves and others, to having "dangerous" emotions without provoking shame, particularly the shame-fear of losing control and face. To the extent that it has become "natural" to perceive the pulls and pushes of both "first nature" and "second nature", as well as the dangers and chances, short-term and long-term, of any particular situation or relation, a "third nature" type of personality has been developing. Examples illustrating this trend also help us to understand it as a process of psychic integration triggered by continued social integration.

Keywords